Petrobras cercada por ratos, tubarões, polvos e abutres


Pode ser balão de ensaio ou boato, mas faz sentido a notícia publicada nesta quinta-feira (14/01/16) pela Folha de S. Paulo, segundo a qual o Bradesco foi contratado pela Petrobras para selecionar um comprador para os 38% que a companhia estatal brasileira possui no capital da Braskem, a central petroquímica de Triunfo, na Grande Porto Alegre. Consta que a parcela valeria R$ 5,8 bilhões, 0,25% da dívida da BR, estimada em US$ 560 bi.

Considerando que a ex-Copesul se tornou um dos negócios mais rentáveis do universo da petroquímica das Américas, pode-se dizer que a Petrobras confiou à maior raposa da banca nacional a parte que tem na galinha dos ovos de ouro da petroquímica brasileira.

Se fosse só isso, tudo bem: o mínimo que pode acontecer é que a própria “vendedora” lidere o direito de compra do patrimônio, como fez em diversas transferências acionárias na economia brasileira ou em empreendimentos cruciais na área da produção de energia ­– os bancos gostam de comprar empresas que precisam passar por processos de saneamento e/ou “down sizing” para, depois de alguns anos, vendê-las com bastante lucro. É uma das formas mais sofisticadas do rentismo, a última praga do capitalismo.

Só que com a Braskem ocorre bem o contrário: trata-se de uma empresa modernamente ajustada e que não precisa passar por qualquer processo de saneamento, a menos que o caso seja consequência da Operação Lava Jato, que desvenda falcatruas no âmbito de contratos da Petrobras com empreiteiras, entre elas a Construtora Odebrecht, empresa-mãe do Grupo Odebrecht, ao qual pertence a Braskem. Outra hipótese de menor calibre é que a direção da BR cansou de vender nafta barata à central de Triunfo, cuja direção, aliás, fica em São Paulo.

Se a venda das ações da BR na Braskem for decorrência da Lava Jato, estamos diante de uma convergência nefasta de interesses em prol da desvalorização de empresas-chave da economia brasileira. Ou, seja, onde acima está escrito “uma convergência nefasta de interesses”, pode-se ler “uma conspiração antinacional”, favorecida pela crise da economia mundial iniciada em 2008 nos EUA.

Sem dúvida, a Petrobras é a bola da vez para o capitalismo financeiro internacional, que vive de grandes tacadas, orientando-se prioritariamente pelo critério da rentabilidade, matriz do rentismodominante na economia do mundo desenvolvido e crescente no Brasil. O Bradesco é o mais eficiente office boydesse sistema que se tornou nefasto por desdenhar da necessidade do equilíbrio ambiental e desprezar a dimensão social das atividades econômicas.

Embora a Petrobras não seja um bom exemplo em relação ao meio ambiente, a pergunta que se impõe para a economia do Rio Grande do Sul e do Brasil é o que será da Braskemsem a sócia estatal, que cumpre em Triunfo o papel clássico do poder moderador contra a desnacionalização no setor petroleiro-petroquímico. Ou, seja, estaremos vivendo o desmanche do poderio estratégico da Petrobras?

Pode-se argumentar que o nacionalismo dos tempos d’O Petróleo é Nosso saiu de moda diante da globalização econômica, mas a ex-Copesul ainda é uma empresa emblemática por ter nascido da superação de um impasse vigente no fim dos anos 1970, quando deu origem a um projeto industrial equilibrado entre a cautela dos ambientalistas e o destemor dos desenvolvimentistas.

Sob fogo cruzado do Ministério Público Federal, da Polícia Federal e da Procuradoria Geral da República – três entes federais amparados pelo Judiciário –, a Petrobras está executando uma “master liquidação” de ativos para custear seu endividamento, “limpar” seus contratos de investimentos e fazer frente à desvalorização do preço internacional do petróleo.

Com o petróleo valendo 30% do que valia há oito anos, a BR está cercada pelos tubarões, polvos e abutres que desde o fim do século XIX fazem parte do imaginário das pessoas que lidam com o universo do petróleo. Os cachorros grandes da economia mundial estão “secando” o pré-sal. E contam para isso com a ajuda de bancos, empresários, funcionários públicos e parlamentares brasileiros. Pairam dúvidas sobre o pensamento das Forças Armadas, cuja chama nacionalista foi praticamente apagada há 50 anos, quando Leonel Brizola e afins tinham uma palavra para essa prática: entreguismo.

Ainda que surpreenda ao colocar à venda os 38% que possui na lucrativa Braskem, a Petrobras abre a porta – no seu pior momento – para fundos de investimentos que rondam jazidas, refinarias e outros meganegócios no mercado brasileiro. Dias atrás ela vendeu por R$ 1,9 bilhões para o grupo japonês Mitsui 49% do capital da Gaspetro.

LEMBRETE DE OCASIÃO

No ghe ze rede par ‘l pesse grosso

(Não tem rede para o peixe grande)

Provérbio talian, o dialeto italiano do RS

http://seculodiario.com.br/26833/14/petrobras-entregas