Petrobras ganharia um pouco mais de tempo com a venda da Braskem (e só)

O tempo não para: prioridade da Petrobras é se aguentar, até que os mercados de crédito e de petróleo melhorem (Flickr/Martin Lopatka)
O tempo não para: prioridade da Petrobras é se aguentar, até que os mercados de crédito e de petróleo melhorem (Flickr/Martin Lopatka)
SÃO PAULO – Tudo o que a Petrobras ganharia, na prática, ao vender sua participação na Braskem, é tempo. E o pior: tempo de má qualidade, segundo analistas ouvidos por O Financista. Isto porque, estaria trocando a sociedade em uma empresa promissora por um respiro de curto prazo, na esperança de que os mercados de crédito e de petróleo melhorem. Ou seja: venderá o almoço, sem saber sequer se conseguirá comprar a janta. A notícia foi veiculada nesta quarta-feira (13) pela Folha de S.Paulo.

O valor obtido na transação aliviaria apenas marginalmente sua dívida bruta. A Petrobras é a segunda maior acionista da Braskem, com 47% do capital votante e 36% do capital total. No mercado, essa fatia vale cerca de R$ 6 bilhões. A dívida total da estatal, em setembro de 2015 (últimos dados disponíveis), era de R$ 506 bilhões – ou quase 100 vezes mais. “A única coisa que a Petrobras ganharia, nesse caso, é tempo”, resume Rafael Ohmachi, analista da Guide Investimentos.

O tempo serviria para duas coisas. A primeira é cortar tudo o que puder em investimentos e gastos correntes. Na terça-feira (12), por exemplo, a estatal anunciou ajustes no plano de negócios de 2015-2019. Apesar de embutir algumas premissas polêmicas, como o preço médio de US$ 45 por barril de petróleo (considerado otimista por muitos analistas), o fato é que a Petrobras cortou 17% do investimento previsto, somando agora US$ 119 bilhões.

Mais tempo também ajudaria a petroleira a aguardar uma melhora do humor do mercado. Neste momento, os investidores passam longe dos papéis da companhia. Paralisada pela Operação Lava Jato, que apura um bilionário esquema de corrupção em suas entranhas; rebaixada a grau especulativo pelas agências de risco; e diante da rejeição do mercado internacional a papéis de empresas brasileiras em geral, a Petrobras enfrenta grandes dificuldades para rolar suas dívidas e conseguir dinheiro novo. “O mercado de crédito está fechado atualmente”, diz Ohmachi, da Guide.

Assim, não restaria outra opção para obter dinheiro, a não ser vender ativos. É o que a empresa vem fazendo. O problema é que o mundo atravessa uma fase negativa para a indústria do petróleo. Quem vai querer comprar uma plataforma ou um bloco de produção, com a cotação do barril ao redor de US$ 30? E, pior: sem saber por quanto tempo os preços continuarão baixos?

Precipitação

Por isso, a Braskem aparece como um ativo interessante para oferecer. Sua gestão é elogiada pela maioria dos analistas, seu nível de endividamento caiu de 2,27 vezes o ebitda para 2,05 vezes, entre o acumulado de nove meses de 2014 e o acumulado até setembro de 2015. Esse indicador, aliás, é o que mais contrasta com o da Petrobras. A alavancagem da estatal subiu de 4,77 vezes para 5,24 vezes o ebitda, entre dezembro de 2014 e setembro de 2015. A geração de caixa da Braskem, medida pelo ebitda, subiu 67% no mesmo período, para R$ 7,1 bilhões. “Até faz sentido colocar a Braskem à venda, mas é precipitado”, diz Ohmachi.

Há dúvidas, inclusive, se a venda de sua fatia na Braskem vai mesmo vingar. Sua sócia no bloco de controle da Petroquímica, a Odebrecht, está soterrada pela Lava Jato e não teria condições financeiras para exercer o direito de preferência previsto no acordo de acionistas. Logo, é preciso encontrar outro interessado.

O analista Carlos Herrera, da Empiricus, acrescenta que as perspectivas do setor petroquímico são positivas no médio e longo prazos, devido ao baixo preço do petróleo (que barateia a nafta, matéria-prima das petroquímicas) e da substituição de importações de insumos por produtos nacionais, devido ao dólar alto. Mas Herrera faz ressalvas à própria situação da Braskem. “O que nos preocupa é a alta alavancagem financeira da empresa e sua rentabilidade baixa e volátil”, diz. “Isso suporta nossa recomendação neutra para BRKM5 [as ações preferenciais da Braskem, as mais negociadas na Bolsa]”, acrescenta.

Para Herrera, essa precipitação só confirma que a Petrobras está tão desesperada para se salvar, que está tomando medidas cada vez mais imediatistas. Outro exemplo seria o perfil dos cortes de recursos que a empresa vem anunciando. O analista lembra que 90% da redução de Capex anunciada ontem para o período 2015-2019 focou a exploração e produção. A meta de produção baixou 1,8% para 2016 e 3,6% para 2020. “O foco da empresa não está mais no longo prazo e, portanto, os riscos só aumentam para o investidor minoritário”, conclui.