Cerveró negociou sua permanência no cargo em troca de pagamento de US$ 6 milhões

Cerveró diz que pagou US$ 6 milhões a senadores do PMDB

Por André Guilherme Vieira

CURITIBA – O ex-diretor de Internacional da Petrobras Nestor Cerveró afirmou que negociou sua permanência no cargo em troca do compromisso de pagamento de US$ 6 milhões a senadores do PMDB, firmado em jantar do qual participaram os senadores Renan Calheiros (AL) e Jader Barbalho (PA).

Cerveró relatou à Procuradoria-Geral da República (PGR) que em 2006 foi chamado para reunião com o então ministro de Minas e Energia Silas Rondeau (PMDB), que teria dito que o PMDB do Senado passaria a apoiar o declarante na diretoria Internacional da Petrobras; que por isso o declarante teria que prestar auxílio financeiro também para senadores do PMDB.

Cerveró contou que em um jantar “organizado na casa de Jader Barbalho, em Brasília, do qual participaram Renan Calheiros, Sergio Machado [ex-presidente da Transpetro], Paulo Roberto Costa (diretor de Abastecimento da Petrobras) e o declarante (…) que no jantar o declarante se comprometeu a contribuir com US$ 6 milhões para os políticos do PMDB”.

O delator disse que “assumiu o compromisso de repasse desses valores porque já havia no horizonte a negociação da compra das sondas Petrobras 10000 e Vitória 10000” e que “a propina seria retirada desses contratos”.

Cerveró afirmou também que o lobista Jorge Luz – apontado pela Lava-Jato como o mais antigo operador de propinas na Petrobras – “que era operador de Jader Barbalho, tinha dito ao PMDB do Senado que os diretores da Petrobras tinham capacidade de arrecadar de 30 a 40 milhões de dólares, que sairiam dos negócios que seriam fechados pelo declarante e por Paulo Roberto Costa”.

Segundo Cerveró, o jantar foi realizado com a presença dele e de Costa “para que os políticos do PMDB pudessem confirmar e saber exatamente qual o potencial de ambos para repassar valores ilícitos retirados de contratos da Petrobras”.

Cerveró falou aos investigadores da Lava-Jato que ele e Costa explicaram aos parlamentares que não tinham condições de “gerar propina nesse montante”.

De acordo com Cerveró, após as eleições daquele ano, em que Luiz Inácio Lula da Silva foi reeleito presidente tendo o PMDB em sua base de apoio, “foi feito um novo jantar, na casa de Jader Barbalho, em Brasilia, do qual participaram o declarante e Renan Calheiros, além do próprio Jader Barbalho”.

Cerveró afirmou “que os políticos do PMDB haviam recebido a propina acordada (US$ 6 milhões) e tinham sido eleitos”.

Apesar de a propina operada ter sido de apenas um quinto do que estimou o lobista Jorge Luz, Cerveró afirmou que Jader o agradeceu: “Quero agradecer pelo senhor ter cumprido o seu compromisso. Agora cabe a nós apoiá-lo para mantê-lo no cargo”.

No entanto, de acordo com a delação premiada de Cerveró, no segundo semestre de 2007, teve início um movimento da bancada mineira do PMDB da Câmara, “capitaneado pelo falecido deputado federal Fernando Diniz, para destituir o declarante da diretoria Internacional da Petrobras e nomear em seu lugar João Augusto Henriques”.

Henriques é acusado de operar propinas para o PMDB e já responde a processo por corrupção e lavagem de dinheiro na Justiça Federal do Paraná.

Segundo Cerveró, “a bancada mineira do PMDB na Câmara condicionava o apoio à aprovação da CPMF [Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira], de interesse do governo, à substituição do declarante por João Augusto Rezende Henriques”.

Cerveró disse que a partir de então foi buscar apoio “perante aqueles políticos do PMDB com os quais tinha anteriormente se comprometido; que esteve com o senador Renan Calheiros, mas ele estava fragilizado em razão do escândalo envolvendo sua filha; que Silas Rondeau também estava fragilizado em razão de suspeita de corrupção no Ministério de Minas e Energia”.

Cerveró relatou que então “falou com Jader Barbalho, mas ele disse que o compromisso do presidente Lula com a bancada do PMDB na Câmara era muito grande, em razão da necessidade de aprovação da CPMF e que, portanto, ele não teria mais o que fazer para conceder apoio político ao declarante”.

Intermediação de Bumlai

Cerveró então disse que resolveu recorrer ao então presidente nacional do PMDB, o atual vice-presidente da República Michel Temer. “Essa reunião ocorreu no escritório de Michel Temer em São Paulo e foi viabilizada por José Carlos Bumlai; que Bumlai tinha uma dívida de agradecimento com o declarante, em razão da atuação do declarante para favorecer a contratação da Schahin para operar a sonda Vitória 10000”.

Cerveró disse que também participou o hoje ex-deputado federal do PT, João Paulo Cunha, condenado no Mensalão.

O ex-diretor da Petrobras disse que Michel Temer o elogiou, “mas disse que não poderia contrariar a bancada do PMDB na Câmara dos Deputados”.

Bumlai confessou à Polícia Federal (PF) que o empréstimo de R$ 12 milhões contraído por ele com o banco Schahin foi destinado ao PT. O pecuarista e os dirigentes do Grupo Schahin – Salim, Milton e Fernando Schahin – foram denunciados pelo Ministério Público Federal e tornaram-se réus por corrupção no caso Petrobras.

 

http://www.valor.com.br/politica/4360408/cervero-diz-que-pagou-us-6-milhoes-senadores-do-pmdb#