As eleições na Petros ao menos estão servindo para confirmar todas as nossas denúncias, só por isso estão valendo a pena.

1 – Não acreditem em previsões de 30 anos à frente. A única coisa que salva uma fundação como a nossa é a gestão responsável que nos tem faltado e, infelizmente, continua faltando. E é por isso que não dá para fazer nenhuma previsão que não seja a da crescente deterioração das contas da Petros.

No dia 28, no Paraná, tive a ocasião de mostrar a um bom público a incoerência do sr. Henrique Jäger que foi à CPI das Fundações deitar cátedra em gestão por limitação de risco e depois emitiu, na mesma sessão e perante a mesma platéia, dois atestados de comportamento temerário :

– O primeiro, quando assumiu que analisa os investimentos por “fluxo de caixa descontado”. Vocês sabem o que é isto? É o resultado daquilo que um sábio sentado na frente de seu computador imagina que vai ser o desempenho de uma companhia frente a um crescimento de mercado, também imaginado por ele nas próximas duas ou três décadas. Os resultados costumam ser brilhantes. É com base nessa sistemática que nos meteram em Itaúsa (o exemplo que ele deu), Belo Monte, Lupatech, Invepar, Brasil Pharma e Sete Brasil, entre outros.

– O segundo atestado ele passou quando disse que pretende entrar comprando no leilão da parte da Invepar que pertence à falida OAS. A Invepar está sendo consumida pela desastrosa concessão de Guarulhos. Está com uma dívida de curto prazo imensa, soltando um papagaio atrás do outro para pagar as contas e sem perspectiva de mudar a situação, pois está há mais de ano tentando alongar o perfil da dívida com sucesso negativo, ou seja, conseguiu aumenta-la em 500% no último ano. Hoje, a única solução para a Invepar é admitir novos sócios que assumam a dívida. É isso que ela está tentando, tanto que já habilitou sua abertura de capital. Qualquer recurso adicional que a Petros colocar nessa arapuca, será diluído nesse processo. É dinheiro posto fora. Vai servir apenas para pagar os credores da OAS. E ele sabe disso melhor do que eu, pois tem cadeira no conselho da Invepar.

Com esse tipo de gestor sendo respeitado e admirado como o competente promotor de mudanças saudáveis na gestão da Petros, nosso destino é o buraco mais próximo.

Com conselheiros, eleitos ou não, que só enxergam os problemas com os investimentos, quando já deram perda total há muito tempo, que nem se tocam ao constatar que 1/3 da composição da carteira de participações é de companhias cujas ações já viraram pó, que não se vexam de ver na mesma carteira, anos a fio, a mesmíssima Paranapanema, que não decola nem paga dividendos, não sairemos do buraco em que caímos no parágrafo anterior.

Se queremos mudar para melhor, temos que colocar nos conselhos gente que combata. Gente que vá ao Congresso Nacional bater na porta de senadores e deputados, na luta por obter leis que deem voz e vez para os participantes, independência para as fundações e punição para a má gestão proposital. Gente que analise em profundidade as intenções de investimentos e as motivações espúrias que porventura estejam por detrás deles. Gente que vá à imprensa, ao Ministério Público e ao Judiciário denunciar. Gente de ação e coragem. Hoje temos conselheiros que se dizem “calmos e tranquilos” frente a doze anos de patrola do CD sobre o CF – o único órgão da Petros em que os participantes mandam -, e a um déficit que a essa altura já deve estar em 10 bilhões.

2 – A implosão da Petros é só uma questão de tempo, e começou com o AOR/repactuação, cujo objetivo era permitir que a Petrobras se desvinculasse do PPSP. Os 25% de não repactuantes representaram um complicador no processo, pois mantiveram viva uma vinculação impossível de desfazer sem afrontar o estado de direito. Se a repactuação tivesse atingido os 100% a história poderia ser bem diferente, pois esse complicador não existiria e tudo seria possível, inclusive a retirada de patrocínio em condições péssimas para os aposentados.

Mas o plano continua, assim como a intenção da Petrobras de se desfazer o mais cedo possível desse encargo, que atualmente encara sem o menor senso de responsabilidade. A maior prova disso é o acordo de pagamento de níveis, um ato de extremo descompromisso com o futuro do PPSP. Outra prova é o movimento no sentido de protelar o saneamento do plano, mais uma irresponsabilidade gritante. A relação da Petrobras com a Petros lembra um casal em que o sentimento de um dos parceiros morreu, a ponto deste encarar o outro como se um estranho fosse, cujos problemas simplesmente não lhe comovem nem lhe dizem respeito.

Na minha avaliação, teremos dias difíceis pela frente, agravados ainda mais pela situação falimentar da Petrobras. Continuo achando que não seremos um Aerus, mas já com uma pontinha de dúvida e admitindo que os participantes mais jovens poderão passar por sofrimentos parecidos com os que passou o pessoal da Varig. É só verificar a evolução galopante do déficit, a recusa da Petrobras em compensar o acordo de níveis e a patente dificuldade em reverter os maus negócios bilionários para concluir que não temos saída fácil.

Pior ainda se reelegermos como nossos representantes as mesmas figuras que assistiram inertes ao solapamento da solidez do nosso patrimônio, permitindo que grande parte dele fosse desviado para projetos aventureiros conduzidos por irresponsáveis.

É por isso que temos que colocar lá gente da estirpe de um Sérgio Salgado.

A hora é agora.

Raul Rechden.