Os funcionários dos Correiospagarão pelo rombo de mais de R$ 5,6 bilhões que os gestores do seu fundo de pensão, o Postalis, deixaram. E isso traz lição importante para os pequenos investidores: jamais confiem a administração de suas economias na mão de terceiros.
Caso Postalis mostra o risco dos fundos de pensão
Fundos de pensão são presa fácil para péssimos administradores. Há muito dinheiro envolvido, indicações políticas baseadas em critérios muito duvidosos, e lamentavelmente, pouquíssima fiscalização. O caso do Postalis é exemplar para mostrar esses pontos.
Os gestores resolveram investir os recursos dos trabalhadores dos Correios em investimentos muitíssimos seguros, como as ações do grupo EBX, de Eike Batista e – influenciados pelo “bolivarianismo” da América do Sul, pasmem – em títulos da Argentina e da empresa petrolífera venezuelana PDVSA.
Melhor do que eu, o seguinte texto explica melhor a falcatrua cometida contra as economias de quem tinha recursos aplicados no Postalis:
Entre as perdas do fundo com investimento estão investimentos no Grupo EBX, de Eike Batista. Segundo o Postalis, essas perdas, “representavam 1,6% dos investimentos em renda variável do Instituto”, que hoje não tem mais nenhum ativo do grupo em carteira.Outra perda foi provocada por um fundo de investimento em papéis da dívida externa brasileira, o Brasil Sovereign II, que recebeu R$ 384 milhões de recursos do Postalis. Montado por uma gestora independente desconhecida, a Atlântica, o fundo contrariou a regulamentação, comprando papéis de outros países, e ainda por cima adquiriu títulos da Argentina e da estatal do petróleo da Venezuela, a PDVSA, que perderam seu valor.
Os papéis da Argentina, que suspendeu os pagamentos da dívida externa no fim do ano passado, deram um prejuízoestimado em R$ 197 milhões em agosto e mais R$ 53 milhões em setembro de 2014. Os da PDVSA, por conta da forte queda do petróleo e das dificuldades econômicas da Venezuela, de mais R$ 20 milhões em janeiro deste ano. No dia 19, o fundo tinha patrimônio de R$ 135 milhões, beneficiado pela alta do dólar, que valoriza suas aplicações no exterior.
Depois da palhaçada, o gestor do fundo escapuliu, fugindo rapidinho rapidinho do país tão logo começaram as investigações.
Lição amarga: administrar seu próprio patrimônio é a saída para evitar episódios como o do Postalis
O que podemos aprender com o episódio? Os funcionários dos Correios poderiam ter escapado de boa parte dos prejuízos que agora terão que amargar se não tivessem confiado demasiadamente no fundo. Deveriam ter exercido seu direito de fiscalizar os investimentos e pressionado a gestão do fundo para aplicar em investimentos mais seguros e sem ligações políticas.
Mais do que isso, eles deveriam ter provisões à parte do fundo. De minha parte, não confio integralmente em nenhum desses fundos de pensão porque boa parte deles é administrado por pessoas com ligações políticas das mais sombrias. O caso do Postalis é apenas um, mas não duvido que outros pipoquem daqui alguns anos. A Previ, por exemplo, dos funcionários do Banco do Brasil, perdeu uma grana preta com o midas Eike Batista. A Funcef, por sua vez, conseguiu fechar 2012 com déficit atuarial de mais de R$ 1 bilhão. E a Petros vem com déficit de mais de R$ 7 bilhões. Vai confiar?
É preciso aprender a administrar o próprio patrimônio, não delegá-lo a terceiros. Tivessem feito isso, os funcionários dos Correios não estariam passando pelos apuros de agora. Ou, no mínimo, teriam diversificado seus investimentos, aplicando uma parte dos recursos de sua aposentadoria na Postalis e o restante em fundos de investimento ou outras aplicações. Diversificar é preciso.
Infelizmente, são poucos os que aprenderão essa lição e, por isso, não me surpreenderei se, no futuro, o caso Postalis se repetir por aí. Portanto, se sua aposentadoria depende apenas de fundos de pensão como Previ, Funcef ou Petros — entre tantos outros –, aprenda com a tragédia do Postalis e comece a tomar as rédeas de sua situação financeira.
A preguiça de aprender a investir seu próprio dinheiro dá nisso: prejuízo certo, aposentadoria incerta. Infelizmente, em pouco tempo o caso Postalis será esquecido, assim como as lições que deveria ensinar.