Mídia golpista e manipulação das massas?

Murillo Brandão

Especialista em Gestão Estratégica de Pessoas. Atuou por 35 anos na Petrobras exercendo diversas funções executivas nas áreas de Recursos Humanos, onde acumulou experiência em Gestão de Pessoas, Educação Corporativa, Cultura Organizacional e Ética no Trabalho. Liderou a concepção e a implantação da Universidade Petrobras. Coordenou o tema Pessoas em projetos de fusões e aquisições internacionais. Desenvolveu as Políticas Globais de Gestão de Pessoas para atuação Internacional da empresa. É sócio da Quantum|Brasil, criador de metodologias inovadoras para desenvolvimento da Liderança, e palestrante internacional.

Vejo amigos governistas usarem estas expressões para desqualificar as manifestações dos insatisfeitos (intolerância com quem pensa diferente?).

Apresento aqui minha visão do que significou a chegada do PT ao poder que, aliás, hoje me arrependo de ter ajudado a acontecer.

Mas antes, esclareço aos que não sabem, que faz 30 anos que não vejo televisão. Aprendi cedo a não me deixar manipular, intelectualmente.

Conto-lhes um pouco da história vivida:

Nos primeiros 24 anos de carreira na Petrobras ( 1979 a 2003) tive uma trajetória ascendente. Começando como Engenheiro Estagiário, até chegar a fundador e Gerente  da Universidade Petrobras, recebi promoções e convites para ocupar posições cada vez de maior responsabilidade.

Nunca tive qualquer afiliação partidária, nem políticos entre meus familiares e amigos. Ao contrário, sempre demonstrei autonomia, e fui talvez o primeiro engenheiro da Petrobras a participar de uma greve ostensiva. Quando a compensação pelo trabalho me pareceu aviltar-se (governo Sarney – Delfim?). Se bem recordo, queriam meter a mão em nossos bolsos, decidiram que íamos “absorver” o não reajuste de 35% da inflação. Em prol do “desenvolvimento nacional”.

Naquele tempo, apenas alguns geólogos ousavam tanto, mas decidi cruzar os braços na porta da empresa. Os engenheiros eram nesta época, seus fiéis defensores  e aceitavam até o inaceitável. Desde então muitos colegas se juntaram aos que enfrentamos o sistema.

Minha carreira profissional foi exclusivamente baseada em minhas competências pessoais.

Mas em 2003, a meritocracia que até então existia na empresa deu lugar ao aparelhamento sindical, com a chegada do governo Lula aos níveis intermediários da empresa. Sindicalistas disputando posições gerenciais, sem importar o conhecimento, experiência, habilidade ou competência do profissional. A lealdade ao partido sindical era condição necessária e suficiente para ocupar qualquer função.

Foi neste período que fui sabatinado.

A Federação Única dos Petroleiros – FUP reuniu cerca de 30 líderes sindicais e fui convocado a mostrar a eles o trabalho que se fazia na Universidade Petrobras-UP. A reunião ocorreu em suas instalações e lhes mostrei todo o trabalho de capacitação em áreas administrativas, técnicas e gerenciais que a UP realizava, em números e detalhes.

A seguir, na sessão de perguntas, fiquei desnorteado. Por quatro vezes pessoas diferentes e com outras palavras me perguntavam a mesma coisa: – “Como é que vocês passam a ideologia do governo FHC aos empregados?”

Tentei explicar de diferentes maneiras que isto simplesmente não existia. Em primeiro lugar que eu não era um “gerente de FHC” e sim da Petrobras. E que treinamento ideológico era algo que nunca existiu e que inclusive não me parecia adequado. Mas creio que não acreditaram em minha sinceridade e fui exonerado da função.

Pela intervenção de amigos, fui transferido ao exterior. E aí passei oito anos  “exilado” e sem capacidade de aportar à empresa no Brasil.

Ao retornar, a área internacional da empresa havia se transformado. Estavam em plena operação as falcatruas que hoje ocupam a imprensa. Só quem conhece profundamente a empresa pode avaliar a transformação que a organização vivia. A meritocracia havia sido definitivamente varrida. O empenho e animo dos empregados, substituídos pelas evasivas e silencio da maioria. Um clima péssimo, de medo e desanimo.

Continuei, no entanto, tentando executar meu trabalho de ajudar os gerentes a motivar seu pessoal. Mantive sempre em mente a defesa da empresa, acreditando que apenas um conjunto de boas ações empresariais poderia voltar a trazer o empenho de todos.

Como gerente de Recursos Humanos, sabemos ser este o caminho.

Rapidamente percebi a dificuldade de fazê-lo. A falta de eco nos escalões superiores. As tentativas de me silenciar e fazer com que acompanhasse a maioria, na aceitação e submissão “às regras do jogo”.

Nos quase dois anos de luta, fui esmorecendo. A “pá de cal” em minha luta por defender a empresa foi a proibição explicita de que eu atuasse na operação de privatização das empresas de propriedade da Petrobras na África para o banco BTG Pactual, apesar de ser parte das responsabilidades da função que ocupava. Sem alternativa, decidi deixar a empresa quando completasse 35 anos de serviço.

Ao ser comunicado por meu superior de que o responsável pelo negócio havia decidido que um jovem subordinado meu, de muito menor experiência, iria coordenar o tema RH e a defesa dos interesses da Petrobras na transação,  e além disso, que eu não me metesse no negócio, percebi que já não fazia sentido seguir na luta.

Decidi, e comentei com varias pessoas em diversas reuniões, que sairia da empresa, por aposentadoria, ao completar 35 anos, no dia 25 de janeiro de 2014.

Repentinamente, o outro autor do projeto, que privatizou nossas empresas africanas, foi nomeado meu chefe direto, no início de dezembro de 2013. Comuniquei a ele, em sua chegada, minha decisão de saída, no próximo dia 25 de janeiro.

Por volta de 15 de dezembro, ele me chama a seu gabinete e, entre outros assuntos, me consulta sobre qual a data mais cedo que eu poderia sair e me aposentar, pois ele queria conformar o mais cedo possível sua equipe. E eu, mais uma vez, acreditando que uma nova equipe poderia dar ânimo à empresa, aceitei antecipar e sair mais cedo do que eu planejara. Fixamos a data da minha aposentadoria para o dia 31 de dezembro.

Saí na data solicitada pelo gerente. E já aposentado, qual não foi minha surpresa ao ver, em 16 de janeiro, (portanto nove dias antes da data em que eu havia anunciado que me aposentaria) ser publicada pela empresa a decisão que cria o Programa de Incentivo à Saída Voluntaria- PIDV, do qual não pude participar por haver aceitado sair mais cedo.

Embora internamente já se especulasse a possibilidade deste incentivo, a presidente tinha recentemente dito na televisão interna que não havia nenhum programa neste sentido. De qualquer forma, para me certificar bem, ainda consultei o gerente da área, no Recursos Humanos Corporativo, porem ele me fez acreditar que efetivamente não havia nenhum plano de implantar PIDV.

Chocado com a manobra, procurei o responsável pelo RH da empresa e tentei anular minha saída. Em vão. Esta estranha coincidência, de ajustes em poucos dias, afetou meu acanhado patrimônio consideravelmente. Perdi uma ótima indenização…

Ao ver agora revelados todos os detalhes das sórdidas operações realizadas nos bastidores da empresa, me sinto moralmente perseguido e prejudicado.

Depois de trinta e cinco anos de trabalho, onde propiciei à empresa um legado reconhecido, externa e internamente, tive que deixar a empresa sem nenhum reconhecimento pecuniário.

Vantagem que mesmo os que não tinham este direito, obtiveram (aparentemente os colegas da diretoria que recentemente renunciaram o levaram).

Fui discriminado por não pactuar com prejuízos à Petrobras, como no desmonte e privatização dadivosa de seus ativos na África.

Agora aposentado, vejo outros sindicalistas que ocuparam as diretorias da Petros (o fundo de pensão aonde colocamos compulsoriamente nossas poupanças), fazerem também uma administração incompetente gerando déficits e brigas internas, com balanços não aprovados pelas instancias competentes, ameaçando também a continuidade de minha aposentadoria.

Além disso, ainda tento empreender e conheço as dificuldades que vivem os empresários que não pagam comissões a corruptos neste país.

Assim, saio à rua para exigir que o governo escale profissionais competentes para cuidar do patrimônio dos outros. Saio à rua para impedir que escalem vendilhões e expertos em negociatas para cuidar da Petrobras. Saio à rua por melhores condições para os que empreendem.

E ainda tenho que escutar esta babaquice de mídia golpista.

Detalhe: tenho provas e testemunhos de tudo o aqui expressado.